segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

QUESTÃO DE CONTEÚDO


Houve-se falar muito em pregadores e conteúdo. Seria como falar em mensageiros e mensagens.
Aproxime-se de um televisor, arme-se de um gravador, percorra durante doze horas os principais programas religioso e grave.
Com a maior isenção possível, tente esquecer que se trata de um pregador da sua igreja, do seu movimento ou de seu animador preferido de show ou de missas. Simplesmente ouça, grave e analise o conteúdo daquelas pregações, a dicção, o uso da gramática e as referências bíblicas ou históricas, as análises das quais ele fez uso.
Se você for dado a leituras, procure na Internet os sermões do Padre Antônio Vieira, e se quiser ir mais longe, os de Lacordaire, Lamennais, Santo Agostinho. São mais encontráveis. Se for leigo, peça emprestado ou compre se tiver dinheiro, os quatro volumes do Breviário Romano, nos quais estão registrados conteúdos de grandes pregadores da fé católica. Depois de alguns dias lendo , volte a ouvir e ver o que gravou.
Os breviários eu tenho e os textos e livros também. Fiz isso. Comparei os sermões de agora dos jovens sacerdotes que falam para milhões e de sacerdotes e bispos mais experientes que também celebram na televisão. Comparei as pregações de famosos pastores que mantêm programas e cultos na televisão. Ouvi as exortações dos cantores durante seus shows e analisei minhas próprias pregações gravadas e os momentos em que fugi do texto que levara comigo.
***
O que percebi daria um livro, mas não creio que seria muito lido. Teria que transcrever o que gravei e apontar para cada trecho gravado.
Se as pregações estão produzindo resultados com milhões de adesões, templos e espaços de oração cheios, não há porque diminuir o valor destes milhares de pregadores que diariamente ocupam templos, rádios e televisão. Estão convencendo milhões de irmãos e irmãs que ali está a mensagem do Cristo como o Cristo pregaria hoje.
Mas entre convencer os fiéis que os ouvem e anunciar o Cristo histórico, o que veio desde os primeiros cristãos, o que foi mudando e anunciar a verdade como ela é há a gigantesca diferença da interpretação. O fato de pregadores de hoje insistirem que assim é a vontade de Deus para o nosso tempo não significa que o que pregam é esta vontade.
O conteúdo da maioria das pregações oferece certeza de que Cristo hoje quereria e quer isso. A pregação mais correta seria a que mostra o que houve através dos tempos e como a formação do que hoje se chama igrejas cristãs passou por contendas, conflitos, polêmicas e debates acalorados até que se formou um consenso de que seguir Jesus Cristo naqueles dias era aceitar as explicações daqueles dias.
O cristianismo foi se ramificando em igrejas antagônicas, que disputam espaço na sociedade, muitas delas altamente proselitistas que não hesitam em puxar fiéis para seus templos e simplesmente não aceitam diálogo fraterno. Há as outras que se miram como igrejas irmãs e dialogam serenamente.
Percebo nas pregações e nas afirmações uma volta ao mágico, ao aqui agora, ao milagre, ao prodígio, às curas, à batalha contra os demônios, à certeza de que Deus dá a quem lhe dá. Desapareceu a gratuidade. Uma onda de pragmatismo envolveu os púlpitos que fazem campanhas para obter, conseguir, alcançar sucesso pessoal, financeiro e vitórias. Em outras palavras, ore e aceite Jesus que você chegará aos primeiros lugares na sociedade. Aquele lugar hoje ocupado por outros é seu, ore e vá que Jesus lhe dará o que você pede. Mas faça sua parte contribuindo para a vitória do evangelho como nós pregamos. O mundo de agora está nas mãos de igrejas que traíram Jesus e satanás ainda governa este mundo. Por isso há tanta corrupção, pecado e violência. Quem aceitar Jesus fará um mundo diferente. Mas Jesus não se acha nas outras comunidades. O novo endereço da fé é aqui.
Houve-se este discurso com frequência. Alguém me perguntou porque ao invés de aumentar minha participação na mídia para pregar nossa maneira de ver as coisas eu sai de duas delas. Minha resposta foi que ainda acredito que Deus aponta caminhos. Se não for eu será outro com muito mais conteúdo do que o meu discurso, que afinal e contas não é nem o mais popular, nem o mais profundo, nem o mais erudito. Há e haverá outros. E se Deus reservar para mim outro espaço, ele o fará. Mas não acredito em incrementar o marketing para por conseguinte, encher os templos de fiéis profundamente influenciáveis pelas câmeras e microfones.
Ainda entendo que por mais tempo que dure e por fiéis que percamos em nossas fileiras, valerá a longo prazo, a catequese serena e de sólidos porquês. Não vejo solidez nas pregações emotivas e imediatistas de agora. Curas, exorcismos e testemunhos podem levar milhões de olhos e ouvidos para os templos que mostram Deus agindo lá e agora. Mas prefiro
Fonte: www.padrezezinhoscj.com

Pe. Zezinho scj

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