segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dom Helder: a utopia do reino!

Das barreiras a romper, a que mais custa, mais importa, é sem dúvida, a barreira da mediocridade”, afirmava Dom Helder. Ele que tem muito a nos dizer e ensinar, ao sonhar com uma Igreja totalmente aberta ao Espírito, pobre e servidora, nós que procuramos mergulhar na sua vida, por ocasião do centenário de seu nascimento (1909 -2009).
Desde a juventude, Dom Helder mostrou-se determinado e comprometido com a realidade social, com os empobrecidos, nunca se esquecendo do conselho de seu pai, ao manifestar-lhe seu desejo de ser padre: “Meu filho, você sabe o que é ser padre? Lembre-se que Padre e egoísmo nunca podem andar juntos. Padre tem que gastar-se, deixar-se devorar”.
Entrou para o Seminário da Prainha, estudou muito e foi ordenado sacerdote em 1931. Deixou o Ceará em 1936 para abraçar, como padre novo, cheio de sonhos e disposição interior, uma nova missão sacerdotal na cidade do Rio de Janeiro, como técnico em educação do Distrito Federal. Ao receber o convite para a nova função, seu bispo lhe aconselhou, dizendo: “Meu filho, é Deus, é Deus que está lhe chamando para o Rio de Janeiro. Aceite o convite! Vá, meu filho, vá!”.
Foi para o Rio de Janeiro, trabalhou, trabalhou e ficou conhecido como o bispo das favelas. Mas seu superior, Dom Jaime de Barros Câmara, não gostava, não achava bom e reclamava do seu contato aberto, ao se dirigir as pessoas, dizendo: “O senhor não pode fazer isso. Um bispo da Igreja é um príncipe e um príncipe não pode se misturar”. Mas Dom Helder adorava se misturar! “Quantas vezes eu celebro em área de miséria e o meu povo canta: O Senhor é o mau pastor, e nada me pode faltar. Eu olho ao seu redor e vejo que está faltando tudo”.
Dom Helder confidenciou: Uma de minhas maiores emoções, em toda minha vida, foi quando da abertura da primeira sessão do Concílio Vaticano II (1962 -1965). Em sua aula inaugural, o Papa João XXIII disse com força: ‘Aqui estamos para a nossa conversão’ e ele mesmo se incluía. Isso significava que nós, cristãos, padres e bispos e até o Papa, que precisávamos voltar às origens do cristianismo e a reaprender o Evangelho. A beber novamente da fonte d’água da vida que é o próprio Deus.
Foi o bispo brasileiro mais influente em todo Concílio Vaticano II, com grande mérito de abrir, para a Igreja, o caminho de renovação, da Igreja povo de Deus e que a mesma tinha que ir ao encontro dos sofredores e empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”. Dizia ele: “Se eu não me engano, nós, os homens da Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da sociedade. Não pense que Deus ajuda a miséria. Deus não aprova as injustiças. As injustiças sociais são problemas nossos”.
No Século passado, Dom Helder foi a pessoa, entre todos os brasileiros, mais conhecida no exterior. Depois de Edson Arantes do Nascimento (Pelé) e Juscelino Kubitschek, foi ele, sem dúvida, o nome sobre o qual mais se perguntava fora do Brasil.
Depois que passou o seu centenário, somos convidados a olhar para a sua vida, o dom maior que a Igreja do Brasil já produziu, e ao mesmo tempo, acolhê-lo como um tesouro ou pérola preciosa, porque seu jeito de viver nos coloca bem dentro proposta do Reino. É importante olhar para a convicção vocacional de Dom Helder, para o brilho de sua sabedoria, com raríssimas qualidades: inteligência, criatividade, perspicácia, e espírito de liderança e, ao mesmo tempo, com um incontestável amor por todas as pessoas do planeta, marcadas pela dor e sofrimento de toda natureza.
O pastor dos empobrecidos, apaixonado por Deus e suas criaturas, percebeu com clareza o caráter universal da salvação, em toda criação, como templo de Deus, e que nela os pobres não renunciam nunca o direito de viver e a utopia de sonhar e viver com esperança. Jesus, o Filho de Deus, não é um mito ou uma fábula, e sim, senhor da vida e da história, a iluminar a humanidade. Em Dom Helder os pobres vivem!
Fonte: http://twitter.com/pegeovane

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