sábado, 13 de novembro de 2010

Pe. Zezinho - Jurássico e Mesozóicos



Como não poderia deixar de ser, o debate sobre o aborto descambou para a ironia, a agressão e a invectiva. Um colunista da Folha de São Paulo, 11.10.2010, nos chama de mesozóicos; outro coloca todos os religiosos no mesmo barco de ultrapassados e há quem declare moderno quem é pró-grávida, ainda que em prejuízo do seu feto. Considera assunto de saúde pública e não de fé e moral. Em outras palavras, imoral é deixar uma mulher morrer de aborto mal feito, mas, com a devida assepsia não é imoral abortar o feto! Não o consideram um ser humano!
Ainda bem, que a era do eufemismo terminou. Agora já se sabe quem quer e quem não quer uma lei que declare que o aborto não é um crime. Não esta matando um bebê, uma criança ou um adulto. Está apenas interrompendo um feto!... É luta que se trata em torno de conceitos. O que é vida? O que é ser humano e pessoa? O que é crer? Existe um criador ou não existe? Se ele existe, pode alguém interromper uma vida da qual ele é o dono?
A maternidade é um chamado e uma reposta, tanto quanto o é a sexualidade humana. Uma decorre da outra. Homem e mulher se entregam e um outro ser humano é concebido. Aí os dois precisam dar sua resposta: querem aquele fruto? Aceitam enfrentar as conseqüências de uma gestação? Querem gerar o que acabam de conceber? Deixarão que ele amadureça, ou no momento não convém que ele fique naquele ventre?
As leis de agora dizem que o feto tem o direito de nascer e que matá-lo é crime. E é por mudança nesta lei que se batem os que defendem o direito de não ter que gerar o fruto de sua relação. E querem que o Estado descriminalize sua decisão. Agora seriam declarados criminosos. Mataram um ser humano. Como não consideram o feto um ser humano e não o vêem como filho, não querem a pecha de criminosos pelo fato de terem causado a morte do seu filho em formação.
Alguém que os defende decide, então, que isto é moderno e que defender o feto é pensamento jurássico. Incidentalmente está todo mundo querendo entender melhor aquele período!...Pareceu menos mortal para o planeta do que os avanços de agora!...Mas , segundo eles, o mundo avançou o suficiente para não mais considerar crime tirar a vida de um feto humano.
Laicistas atacam a visão religiosa, dizendo que a religião não tem o direito de mandar no ventre de quem não crê. Religiosos atacam a visão laicista dizendo que não aceitam ser governados por quem assina uma lei que extermina fetos humanos indesejados. Se somos contra a pena de morte para um frio assassino, também não admitimos a pena de morte contra um feto indefeso cujo “crime” foi nascer em ventre errado e na hora errada.
O debate vai longe. Acirrou-se. Caiu no terreno da agressão e da desqualificação do outro. Mas o fato inconteste é que se luta por uma lei que legitime a interrupção de uma vida humana nas primeiras semanas de seu trajeto. Se Deus não existe, então o direito é do Estado e do casal. Se Deus existe, o dono da vida é ele e de ninguém mais.
Aí, então, o articulista faz piada dizendo que crer num Deus autor da vida é coisa de período mesozóico ou resquício da Idade Média, típico de república de aiatolás... E os religiosos de hoje, que no Brasil chegam a quase 90% da população reagem dizendo que eliminar uma vida inconveniente é que é retrocesso, coisa do tempo das cavernas.
Se não há modernidade em defender um feto, mesmo com o risco de saúde para a mãe, também não há modernidade em sugá-lo para fora do ventre e declarar que, por lei soberana de um povo democrático e livre, o aborto já não é mais crime!
Virou confronto!


Fonte: Pe. Zezinho

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