quarta-feira, 16 de maio de 2012

Entrevista com um padre de cultura indiana

Brasília, quarta-feira, 15 de maio de 2012 - Pe. Joachim Andrade, SVD, é indiano e atualmente Provincial da Ordem dos Missionários do Verbo Divino. É mestre em Antropologia Social pela UFPR, doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP e realizou na índia o curso de dança clássica indiana, com duração de 06 anos. Está no Brasil há 20 anos. Ministrou aulas sobre “As Igrejas Cristãs e o pluralismo religioso: uma visão histórica, antropológica e sociológica”, para estudantes (leigos(as), religiosos(as) e padres) do II módulo do Curso de Missiologia, vindos de vários estados do Brasil e da Argentina, no Centro Cultural Missionário – Brasília – DF. Em entrevista cedida a Ir. Josevânia, ele conta um pouco sobre o desafio de trazer sua cultura para o Brasil. Ir. Josevânia Alves – Qual o principal desafio encontrado pelo senhor ao chegar ao Brasil? Pe. Joachim Andrade – O principal elemento, há 20 anos atrás a Índia era um país considerado distante do Brasil, hoje é mais próximo devido as relações econômicas e outros elementos. Agora, quando eu cheguei ao Brasil, o primeiro elemento que me chocou, foi o elemento cultural, pois a cultura indiana é mais fechada, as pessoas são mais recolhidas, interiorizadas, mais silenciosa e assim por diante, enquanto que aqui no Brasil é uma cultura muito mais aberta e também as interações entre as pessoas é muito mais agradável, muito mais sadia e isso eu não era acostumado. O segundo elemento é a comida. Na Índia nós temos alimentação: vegetais e cereais como base e aqui não, aqui são outros elementos, uma prioridade é a carne, então a carne de gado que para os indianos, a vaca é sagrada aqui nós cosumimos a carne, tive dificuldades no primeiro momento e pouco a pouco, sendo que estou morando lá em Curitiba, entrei dentro da dinâmica do povo brasileiro, principalmente do povo paranaense e consegui superar lentamente esse desafio. Hoje depois de 20 anos, estava olhando atrás, tudo foi agradável com a graça de Deus, e também parece-me que eu sinto-me bem aceito pelo povo brasileiro, como que o povo brasileiro tem um coração do tamanho do Brasil, não é que cabe todo mundo dentro, então nesse sentido eu estou me sentindo muito bem a vontade em casa, tudo é tranquilo. Ir. Josevânia Alves – Como surgiu a ideia de ser o primeiro padre indiano a trazer a sua cultura e a espiritualidade ao Brasil?
Pe. Joachim Andrade – Sendo que eu sou missionário do Verbo Divino, a tarefa do missionário, sendo indiano onde o catolicismo é minoria, aqui era maioria, não faz sentindo vim aqui falar outros elementos, teologia bíblica por exemplo, porque aqui tem peritos muito bons, melhores do mundo inclusive, então o que é que eu achei melhor trazer ao Brasil, a questão da espiritualidade, do silencio, da interiorização assim por diante, esses seguimento que faz parte da nossa cultura indiana. Por exemplo aqui nós rezamos: Pai Nosso que estás no céu, conforme a cultura indiana: “Pai Nosso que estás no dentro”, então uma caminhada sempre para dentro. Cedo ou tarde, nós temos que sentar, contemplar, está bem perto de nós mesmos. Acho que a maior contribuição da cultura indiana ao Brasil, no campo religioso, no campo da tradição, talvez isso, as meditações, a forma de olhar os evangelhos, a nossa própria vida a partir da espiritualidade, valorizar a natureza, valorizar tudo aquilo que existe na natureza, acho que a melhor contribuição que eu pensei que possa dar a cultura brasileira é isso, e desde então, eu cheguei aqui fiz estudos em antropologia onde analisei a dança como ritual, então onde que liturgicamente adequar a dança para rezarmos juntos, e doutorado onde que eu analise as tendências quando uma religião migra de uma cultura para outra, de uma país para outro, o que é que acontece no interior daquela religião, então no meu caso o Hinduísmo para o Brasil, então essas mudanças que foram observadas e dentro desse contexto o Brasil também está se tornando cada vez mais plural, nós temos os nossos vizinhos que pertencem a outra tradição, então alguém que coloca uma proposta universal do silêncio, da espiritualidade onde cabe todo mundo, esse é o curso que estamos elaborando aqui no centro cultural missionário ( CCM). Ir. Josevânia Alves: Como acontece o intercâmbio, entre os 5 países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, chamado BRICS? Pe. Joachim Andrade – Nos últimos cinco ou seis anos para cá, devido a influência da globalização, o foco do comércio está mudando, depois de derrubar duas torres nos Estados Unidos em 2001, depois daquela crise que surgiu em 2008, agora toda aquela confusão que nós observamos na Europa, e esse países em desenvolvimento especificamente: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, criaram um foco do comercio, foco das relações comerciais, então até agora estavam os Estados Unidos, a Europa, agora devagarzinho estamos mudando para outros continentes, principalmente o continente asiático esses dois gigantes países, aqui o Brasil é um gigante e a África do Sul tendo o continente africano. Então o foco do comércio está mudando no sentido, empobrecimento da Europa, devagarzinho empobrecimento dos Estados Unidos, o foco do poder está mudando e nesse sentido enquanto no nível da globalização, esses países estão trabalhando no contexto religioso, os missionários brasileiros contribuindo para a cultura indiana, porque eu conheço algumas irmãs brasileiras que estão lá trabalhando, e indianos vindo aqui, nos enriquecemos mutuamente as nossas relações espirituais missionárias dentro do contexto da Igreja.
Ir. Josevânia Alves: Para quem quiser conhecer mais sobre o seu trabalho e sobre a cultura indiana, como deve fazer? Pe. Joachim Andrade – É só acessar no Google: “Joachim Andrade” e você vai ter acesso a vários artigos científicos, apresentações de danças indiana ou tem também um site: www.svdprovinciabrasilsul.com.br, que é o site da minha província, que alguém pode acessar e ter algumas informações sobre o nosso trabalho. Ir. Josevânia Alves: Que mensagem o senhor deixa aos missionários, como incentivo? Pe. Joachim Andrade – Nesse contexto que cada vez está se tornando plural, inclusive aqui no Brasil, nós temos membros da nossa famílias que pertencem a outras tradições. Que haja muito respeito mútuo entre nós. Caminhos são diferentes, então nós estamos trilhando esses caminhos para chegar ao mesmo Deus, não adianta criticar que o caminho do outro é ‘ruim” e o meu é “bom”. Respeitar esses caminhos para que cheguemos ao mesmo lugar e sentir aquela comunhão que o próprio Jesus nos falou. Então por favor tenham essa bondade de ter o respeito um para com o outro.

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