segunda-feira, 22 de abril de 2013

"A crise de vocação não pode ser atribuída ao Concílio", constata cardeal

 
A “hemorragia” do clero, verificada após a época do Vaticano II, “não pode ser atribuída de maneira alguma ao Concílio, nem a sua, muitas vezes, ambígua recepção. É necessário reconhecer que a crise era anterior, tinha raízes profundas e remotas, e, provavelmente, as reformas conciliares contiveram seus efeitos devastadores”, escreveu o cardeal italiano Mauro Piacenza, prefeito da Congregação do Clero, no volume “Presbyterorum ordinis. 50 años después”, o primeiro de uma série de ensaios dedicados aos documentos conciliares, proposta numa nova coleção da editora Cantagalli, para celebrar o 50º aniversário do Vaticano II.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 19-04-2013. A tradução é do Cepat.
O volume inaugura uma série que será escrita por cardeais. O texto do documento conciliar, em latim e italiano, vem acompanhado com o texto que comenta e contextualiza seus conteúdos. A coleção da Cantagalli, dirigida ao público em geral e não para especialistas, pretende “voltar aos ensinamentos dos documentos conciliares, renunciando interpretações parciais e ideológicas”. E seu objetivo é o de “ajudar mais aos jovens, sem “retaguardas”, para que descubram o grande evento que marcou a história da Igreja do século XX e para que acolham a herança sem intermediários. Além disso, pretende também ajudar aos menos jovens a reviver a alegria, o entusiasmo e o fervor missionário dos anos do Concílio”.
No comentário ao decreto conciliar dedicado aos sacerdotes, o cardeal Piacenza escreve: “Se os sociólogos e historiadores das religiões continuam sublinhando que a hemorragia do clero, após a época do Concílio Ecumênico Vaticano II, não tem precedentes na história da Igreja, nem sequer em comparação com a Reformaluterana, não pode ser atribuída de forma alguma ao Concílio, nem a sua, muitas vezes, ambígua recepção. É necessário reconhecer que a crise era anterior, tinha raízes profundas e remotas, e, provavelmente, as reformas conciliares contiveram seus efeitos devastadores”.
Em seguida, o Prefeito do Clero observa que, a partir da análise do texto do decreto, deduz-se que “a doutrina ali apresentada, do ponto de vista tanto sacramental como pastoral, é absolutamente coerente com toda a Tradição eclesial, com os Concílios dogmaticamente mais relevantes, como o de Trento, e oferece um perfil da identidade sacerdotal completamente arraigado no sacramento da Ordem e inteiramente dependente dela, inclusive, em relação com a missão”.
Piacenza reconhece que, “sobretudo, nas primeiras décadas imediatamente posteriores à promulgação da “Presbyterorum ordinis”, foram buscadas outras novas formas de exercer o ministério sacerdotal, que pudessem responder melhor as exigências da cultura contemporânea e que foram mais eficazes do ponto de vista da missão. No entanto, infelizmente, tal busca viveu não poucos unilateralismos, que ocuparam as mentes e os corações dos que deixaram que os critérios do mundo entrassem no horizonte da fé, surgindo não tanto um mundo novamente evangelizado, mas uma fé, inclusive, às vezes, com experiências comunitárias, completamente mundanizada”.
Em seu comentário, o Cardeal também apontou que “cada fator de autêntica reforma não pode prescindir, na Igreja, da contribuição fundamental dos sacerdotes. Embora seja correto que o Espírito Santo é livre para desenhar, em cada época, o rosto da Esposa de Cristo (sobretudo, suscitando santos, homens e mulheres completamente plenos de Cristo e capazes) e, por isso, de evangelizar com a própria vida e renovar a Igreja e o mundo, os sacerdotes apresentam, no concreto e cotidiano exercício do ministério pastoral, tudo o que a Igreja universal indica como caminho de necessária reforma para o povo santo de Deus, nela, a autoridade suprema”.
Nesta difícil tarefa, observa o Prefeito do Clero, “um critério sempre deve prevalecer: o do bem das almas. Acima de qualquer forma de reforma, sempre deve reinar a pergunta soberana: ‘Isto ajudará a fé? Suscitará um maior apego a Cristo? ’ [...] Se este simples e imediato critério sempre fosse levado em conta – afirma Piacenza -, não haveria nem perigosas mudanças doutrinais infundadas, nem rigidezes nostálgicas de duvidosa utilidade missionária”.
Fonte: IHU

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