terça-feira, 24 de julho de 2012

Maternidade espiritual

A doutrina católica ensina que Maria é Mãe de Deus, como definiu o Concílio de Éfeso, em 431. É o dogma da maternidade divina. Apropriadamente, a literatura católica fala da maternidade espiritual de Maria que se estende a todos os fiéis. Com efeito, Jesus deu Maria por mãe ao discípulo amado: “Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’ A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu.” (Jo 19,25-27) “O Evangelho não registra o nome daquele discípulo. E não o registra de propósito, porque aquele discípulo, que estava ao pé da Cruz e recebeu Nossa Senhora por mãe, representava todos os discípulos de Jesus: os daquele tempo, os que surgiram no decorrer da História, os discípulos de hoje. Representava a todos nós! O autor do quarto Evangelho, um grande teólogo, observa que o discípulo recebeu Nossa Senhora em sua casa. Que casa é esta? Antes de tudo, a casa do próprio coração. Portanto, a devoção a Nossa Senhora pertence à identidade do discípulo de Jesus: o verdadeiro cristão é aquele que reserva um lugar muito especial para Nossa Senhora, antes de tudo na casa de seu coração. E nisso consiste a devoção a Nossa Senhora: reservar um lugar muito especial para Ela em nosso coração, depois em nossa família, em nossas comunidades, em todo o mundo.”

O Papa Bento XVI disse que “o 'sim' de Maria é a porta através da qual Deus pôde entrar no mundo, fazer-se homem. Assim Maria está realmente e profundamente envolvida no mistério da Encarnação, de nossa salvação. E a Encarnação, o fazer-se homem do Filho, era desde o início o que realizava o dom de si; ao doar-se com muito amor na Cruz, para fazer-se pão para a vida do mundo. Assim este sacrifício, sacerdócio e Encarnação vão juntos e Maria está no centro deste mistério. (...) É uma espécie de testamento: confia a sua Mãe à atenção do filho, do discípulo. Mas diz inclusive ao discípulo: ‘Eis a tua Mãe’ (Jo 19, 27). O Evangelho diz-nos que a partir deste momento São João, o filho predileto, recebeu a Mãe Maria, ‘na sua casa’.”

Durante a sua peregrinação missionária, Jesus já estendera a maternidade de Maria todas as pessoas que ouvem a Palavra de Deus e a observam: “Sua mãe e seus irmãos vieram ter com ele, mas não podiam se aproximar, por causa da multidão. Alguém lhe comunicou: ‘Tua mãe e teus irmãos está lá fora e querem te ver’. Ele respondeu: ‘Minha mãe e meus irmãos são estes: os que ouvem a Palavra de Deus e põem em prática’.” (Lc 8, 19-21) Portanto, a escuta da Palavra e a observância das exigências da Palavra geram nos discípulos uma relação de intimidade, identidade e pertença tão fortes como os laços de consanguinidade entre Maria e Jesus.

De maneira especial, a comunidade cristã se prepara para viver o Ano da Fé, a ser aberto no dia 11 de outubro próximo, na comemoração dos 50 anos do início das Sessões do Concílio Vaticano II e da abertura do XIII Sínodo dos Bispos que vai tratar da “Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã”. O Papa, na Carta Apostólica Porta Fidei, coloca Maria como o primeiro dos “exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história da salvação.” Assim conclui a Porta fidei: “À Mãe de Deus, proclamada ‘feliz porque acreditou’ (cf. Lc 1,45,), confiamos este tempo de graça.” Ao propor Maria como exemplo de fé, o Papa reconhece e proclama a sua maternidade espiritual.
FONTE: CNBB
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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